30 novembro 2007

OCDE: Brasil é 52º de 57 países em ensino secundário

O Brasil ocupa uma constrangedora 52ª posição na pesquisa Pisa, levantamento realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avaliou em 2006 a capacidade dos estudantes do ensino secundário - de 15 anos de idade - em 57 países que totalizam quase 90% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. O desempenho dos estudantes brasileiros foi considerado superior apenas ao dos estudantes da Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Catar e Quirguistão, o lanterna do ranking.

A pesquisa Pisa é liderada pela Finlândia. O grupo dos dez países mais bem posicionados é completado por Hong Kong, Canadá, Taiwan, Estônia, Japão, Nova Zelândia, Austrália, Holanda e Liechtenstein. Entre os países sul-americanos, o Chile é o melhor colocado, em 40º lugar.

Segundo a OCDE, a Pisa é a pesquisa internacional mais "abrangente e rigorosa" do desempenho dos alunos secundaristas. Em 2006, os estudos se concentraram no nível de conhecimento dos estudantes na área de ciência e sua capacidade de usar esse conhecimento para identificar e resolver problemas do dia-a-dia. "Na competitiva economia global de hoje, a qualidade da educação é um dos ativos mais valiosos que uma sociedade e um indivíduo pode ter", disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.

FONTE: João Caminoto, AE/FSP, 29/11/2007 - 14h32

29 novembro 2007

Consumo contemporâneo é fetichista e performático

Pessoa vai ao shopping não só para comprar, mas para se mostrar, diz antropólogo
Italiano considera shopping center como "fábrica da contemporaneidade" e afirma que tendência ultrapassa mercado de luxo
por Isabelle Moreira Lima, da Reportagem Local
O consumidor contemporâneo tornou-se performático. Ele vai a um shopping center não apenas para comprar, mas para consumir comunicação, para se mostrar, para encontrar as pessoas. Nesse sentido, o shopping center é a "fábrica da contemporaneidade". A tese é do italiano Massimo Canevacci, professor de antropologia cultural da Universidade La Sapienza, de Roma, que esteve no Brasil neste mês para apresentar palestra sobre a fetichização visual das marcas, realizada pelo instituto Ipsos em parceria com a Aberje. O fetiche, diz ele, está presente em quase toda a publicidade, principalmente na das marcas de luxo. Esse é o tema do último livro de Canevacci, que será lançado no Brasil no começo do ano que vem, pela Ateliê Editorial, com o título provisório de "Estética da Comunicação Global". Leia, a seguir, trechos da entrevista à Folha.
FOLHA - O sr. defende que o consumo passou por modificações, fala em "consumo performático". O que isso significa? MASSIMO CANEVACCI - Uma das diferenças fundamentais da transição da era industrial para os dias de hoje está justamente no consumo. Na época industrial, o consumo representava a etapa final da produção. Hoje, o consumo não existe somente no sentido clássico-modernista de coisas e mercadorias. Nos últimos 20 anos, o consumo virou produto de valores econômicos ou de estilo de vida. O consumidor contemporâneo é protagonista do consumo. Uma pessoa não vai a um shopping center somente para comprar coisas, mas para consumir comunicação, para se mostrar, para encontrar outras pessoas. Daí surge a idéia de um consumo performático. E, nesse sentido, o shopping center assume o papel de fábrica da contemporaneidade.
FOLHA - Qual o papel do fetiche no consumo contemporâneo? CANEVACCI - As empresas, nos últimos anos, constroem um tipo de comunicação baseada nisso. O logotipo está na espiritualização do fetiche. O "brand" se baseia em uma identidade fetichizada, que as marcas mais significativas desenvolvem de maneira múltipla. Não é uma monomarca. É uma polimarca, um tipo de produto muito mais subjetivado. O desafio contemporâneo é justamente subjetivar o produto. A subjetivação é uma fetichização. O produto não é mais um produto, mas um ser.
FOLHA - De que maneira o fetiche transforma o produto? CANEVACCI - O fetiche tem uma enorme potencialidade para cruzar o que era dividido, unir a dimensão orgânica à inorgânica. O fetichismo visual contemporâneo faz essa mistura. No momento em que eu compro uma coisa, essa não é uma coisa somente. É parte de um ser -eu a coloco na minha identidade e a minha identidade muda. A tendência contemporânea é ter uma "multiidentidade", o que chamo de multivíduo, isto é, vários "eus" em um só, o que é diferente de "nós".
FOLHA - O sr. vê uma ligação forte entre fetiche e consumo de luxo... CANEVACCI - O consumo de luxo abriu essa mistura de códigos fetichizados, baseados na arte e no erotismo contemporâneo. Quando tudo foi misturado, foi aberta, por fim, uma avenida na qual aparece também o produto aparentemente banal. É o caso da Parmalat, que colocou no seio de uma modelo sua logomarca, um tipo de fetichização mais simples, mas que ao mesmo tempo tem sedução erótica forte.
FOLHA - O fetiche é capaz de valorizar um produto? CANEVACCI - Claramente aumenta o valor do produto porque a sensibilidade de uma coisa que também é parte constitutiva da minha corporalidade favorece uma atração forte do consumo contemporâneo. Aumenta o valor, não necessariamente o preço.
FOLHA - O sr. diz que o fetiche transforma as coisas em seres. Ele pode transformar também seres em coisas? CANEVACCI - Sim, claramente. A distinção é dualista, no fetichismo contemporâneo e também no tradicional. Uma banal fotografia de um pedaço de mulher [cita anúncio da "Harper's Bazaar" japonesa no metrô de Tóquio que traz a barriga grávida de Britney Spears] vira um fetiche visual. Há uma força nesse tipo de fotografia.
FOLHA - O sr. acha que essa fetichização dentro do mercado acontece em todos os lugares, é um fenômeno mundial? CANEVACCI - É um fenômeno muito global e também "glocal". Acho que é uma tendência fortíssima da contemporaneidade. É um indicador para entender o processo da comunicação contemporânea.
FONTE: FSP, Caderno Dinheiro, 25/11/2007