16 abril 2008

A identidade cultural na pós-modernidade - HALL

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª ed. Rio de Janeiro, DP&A, 2006.

A identidade em questão

  • Velhas identidades em declínio – sujeito unificado
  • Novas identidades: fragmentadas, descentradas, deslocadas – várias identidades, algumas vezes contraditórias ou mal resolvidas
  • Crise de identidade: “parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social (7)” – duplo deslocamento: lugar no mundo social e cultural e de si mesmo
  • Referencial para o indivíduo até o século XX: classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade – sujeito integrado
  • Sujeito do Iluminismo: “indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, da consciência e de ação (10)” – permanece idêntico do nascimento à morte – concepção individualista do sujeito e de sua identidade
  • Sujeito sociológico: “crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos, sua cultura (11)” do mundo que habitava – interação entre o eu e a sociedade – “projetamos a nós próprios nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural (12)” – a identidade une o sujeito à estrutura
  • Sujeito pós-moderno: não tem identidade fixa, essencial ou permanente – “o processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático (12)” – definida historicamente – “o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um eu coerente (13)”, o que é uma fantasia
  • Modernidade tardia: globalização e seu impacto sobre a identidade cultural – sociedades em mudanças constantes, rápidas e permanentes – GIDDENS, HARVEY, LACLAU: ênfase na descontinuidade, na fragmentação, na ruptua e no deslocamento
  • “A sociedade não é um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade, produzindo-se através de mudanças evolucionárias a partir de si mesma. Ela está constantemente sendo descentrada ou deslocada por forças fora de si mesma. As sociedades não se desintegram totalmente não é porque elas são unificadas, mas porque seus diferentes elementos e identidades podem, sob certas circunstâncias, ser conjuntamente articulados (17)” – a estrutura da identidade permanece aberta – desarticula as identidades estáveis do passado e abre a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades
  • Conseqüências políticas da fragmentação ou pluralização de identidades[1]

Nascimento e morte do sujeito moderno

  • Sujeito humano: capacidades fixas e sentimento estável de sua própria identidade e lugar
  • Concepções mutantes do sujeito humano: figura discursiva
  • WILLIAMS: “por um lado, o sujeito é indivisível, uma entidade que é unificada no seu próprio interior e não pode ser dividida além disso; por outro lado, é também uma entidade que é singular distintiva, única (25)”
  • DESCARTES – sujeito cartesiano: “concepção do sujeito racional, pensante e consciente, situado no centro do conhecimento (27)” – “penso, logo existo”, identidade fixa e unificada
  • LOCKE: “mesmidade de um ser racional” – identidade contínua, que permanecia com o sujeito
  • Época moderna: Humanismo Renascentista (séc XVI – colocou o homem no centro do universo, revoluções científicas) e Iluminismo (séc XVIII – homem racional, científico, liberto do dogma e da intolerância) surge “forma nova e decisiva de individualismo, no centro da qual erigiu-se uma nova concepção do sujeito individual e sua identidade (24-5)” – “transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas (25)
  • A Reforma e o Protestantismo libertaram a consciência individual da Igreja
  • Revoluções Burguesas: tornam as sociedades modernas mais complexas e adquirem forma mais coletiva e social – “concepção mais social do sujeito, localizado e definido no interior dessas grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade moderna (30)”
  • Surgimento: biologia, economia, psicologia, sociologia – 1ª metade séc XX – “encontramos aqui a figura do indivíduo isolado, exilado ou alienado, colocado contra o pano-de-fundo da multidão ou da metrópole anônima e impessoal (32)”, o flaneur de BAUDELAIRE[2]
  • Biologia: DARWIN, desenvolvimento contínuo das espécies
  • Economia e legislação: indivíduo soberano no centro do discurso
  • Psicologia: estudo do indivíduo e de seus processos mentais – FREUD: “nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma lógica muito diferente da razão, arrasa com o conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada (36)”
  • Sociologia: localizou o indivíduo em processos de grupo e nas normas coletivas – os indivíduos são formados subjetivamente através de sua participação em relações sociais mais amplas
  • Internalização do exterior no sujeito e externalização do interior através da ação no mundo social
  • MARX: os homens fazem a história sob as condições que lhes foram dadas
  • ALTHUSSER: relações sociais: modos de produção, exploração da força de trabalho, circuitos do capital – há uma essência universal do homem e essa essência é o atributo de cada indivíduo singular
  • LACAN: “a imagem do eu como inteiro e unificado é algo que a criança aprende apenas gradualmente, parcialmente e comum grande dificuldade. Ela não se desenvolve naturalmente a partir do interior do núcleo do ser da criança, mas é formada em relação com os outros; especialmente

As culturas nacionais como comunidades imaginadas



[1] Eu irônico (RORTY) e falso self (WINNICOTT)

[2] Flaneur: Baudelaire “Pintor da vida moderna”, Walter Benjamin, Kafka “O processo”, Frisby, George Simmel, Alfred Schutz, Sigfried Kracauer, “The Stranger”, “The Outsider” – legião de figuras alienadas da literatura e da crítica social do século XX – imagens proféticas do sujeito da modernidade tardia


07 abril 2008

A arte do tempo - SERVAN-SCHREIBER

  • Tempo saturado:
- produtividade: realizar mais tarefas num lapso de tempo invariável por definição - desempregado: o indivíduo que possui tempo livre que preferia não ter
- dispersão: tempo gasto em transportes, pois o local do trabalho está dissociado do local de moradia
- consumo: o crescimento do poder aquisitivo versus o tempo necessário para o consumo - lojas 24 horas
  • Não há possibilidade de escape: celulares, notebooks, secretárias eletrônicas, e-mail, nada pode ser perdido, sempre somos encontrados
  • Necessidade econômica de assumir tarefas cada vez mais numerosas e diversificadas
  • Crescimento da quantidade de pessoas com as quais somos levados a manter contato
  • Disponibilidade de meios de transporte e de comunciação abundantes e baratos
  • Mensagem publicitária: 30 segundos nos quais tudo deve ser dito
  • Impaciência crônica versus capacidade de concentração: opressão do tempo
  • Hábitos: fazer o agradável antes do desagradável, rápido antes do demorado, fácil antes do difícil, o que sabemos fazer antes do que é novidade, urgente antes do importante, o que os outros nos impõem antes do que nós escolhemos